O fim do feed perfeito: como a estética crua está redefinindo o conteúdo digital
O feed polido e planejado está dando lugar a uma estética mais crua e realista. Criadores e marcas que apostam na espontaneidade, nos bastidores e na imperfeição ganham mais conexão com o público em um cenário digital cada vez mais avesso ao artificial.
CRIADORES
Rayan Dores
8/7/20252 min read


Durante anos, manter um feed "perfeito" foi o padrão-ouro entre criadores, influenciadores e marcas. No Instagram, por exemplo, era comum ver grades milimetricamente planejadas, cores padronizadas, composições simétricas e imagens cuidadosamente editadas para transmitir uma estética impecável. Esse modelo visualmente atrativo consolidou muitos nomes no mercado — mas já não dita mais as regras.
A nova tendência entre criadores de conteúdo é justamente o oposto: autenticidade visual. Fotos sem edição, vídeos gravados com o celular na mão, stories bagunçados, erros deixados propositalmente, bastidores da criação — tudo isso está ganhando mais engajamento e credibilidade do que produções super refinadas. Não se trata de falta de cuidado, mas de uma estratégia clara de aproximação. A ideia é mostrar a realidade como ela é — e isso gera identificação.
Por que essa mudança está acontecendo?
Saturação visual: Depois de anos consumindo feeds organizados e visualmente “perfeitos”, os usuários passaram a perceber uma uniformização do conteúdo. Tudo parecia igual. Essa saturação criou um espaço para o espontâneo e o inesperado.
Ascensão da Geração Z: Esse público valoriza autenticidade acima de aparência. Eles se conectam com criadores que mostram a vida como ela realmente é, sem filtros excessivos ou encenações.
TikTok e BeReal como catalisadores: O TikTok prioriza vídeos rápidos, diretos, sem edição elaborada. O BeReal propõe que o usuário poste uma foto sem preparação prévia. Essas plataformas consolidaram a estética crua como um novo padrão de engajamento.
Cansaço da performance: Muitos influenciadores relataram exaustão ao tentar manter uma imagem idealizada. Mostrar-se real é também uma forma de autocuidado e sustentabilidade na criação de conteúdo.
Impacto para criadores e marcas
Para os criadores, essa mudança abre espaço para mais liberdade criativa e menos pressão estética. Não é mais necessário ter o equipamento mais caro ou contratar um designer para montar o feed. O conteúdo autêntico, mesmo simples, pode gerar muito mais impacto se for relevante e humano.
Já para marcas, a tendência exige uma adaptação de linguagem. As campanhas tradicionais com estética publicitária têm gerado menos resultado do que parcerias com criadores que mantêm sua autenticidade visual. Isso exige que as marcas deixem de lado a necessidade de controle estético absoluto e passem a confiar mais nos creators como co-autores da narrativa.
Estamos diante de uma mudança de longo prazo?
Tudo indica que sim. A estética crua não é apenas uma moda passageira, mas uma resposta a um comportamento cultural mais amplo: a valorização da transparência. Em tempos de desinformação, discursos ensaiados e filtros em excesso, o conteúdo que mostra o real — ainda que imperfeito — se torna mais confiável.
Isso não significa o fim da estética visualmente agradável. Significa que o conteúdo mais elaborado precisará justificar sua forma e seu contexto, enquanto o espontâneo continuará ganhando espaço pela conexão emocional que gera.