O Dilema da Transparência: O Paradoxo Ético da IA Generativa na Pesquisa Acadêmica
Declarar o uso de IA pode diminuir a confiança no trabalho, mas omitir é antiético. Como a academia e os pesquisadores estão navegando na linha tênue entre inovação e integridade em 2025.
ESPECIAL
Luiza Marinho
11/12/20252 min read


A Inteligência Artificial Generativa (IAG) transformou a pesquisa acadêmica. Ferramentas como o GPT-4 e o Gemini aceleram a revisão bibliográfica, a redação de rascunhos e a análise de dados. No entanto, essa poderosa aliada trouxe consigo um profundo dilema ético: o Paradoxo da Transparência. Pesquisadores que declaram abertamente o uso de IAG em seus trabalhos, embora agindo com integridade, enfrentam o risco de ter a credibilidade de seu estudo questionada. Por outro lado, a omissão do uso da IA é uma violação da integridade científica. Em 2025, a academia global está em uma corrida para estabelecer diretrizes claras que equilibrem a inovação tecnológica com a manutenção da confiança na ciência.
O Paradoxo em Detalhes
O cerne do paradoxo reside na percepção. A IAG é vista simultaneamente como uma ferramenta de produtividade e como um substituto da autoria.
Uma pesquisa recente, citada em um blog da SciELO, revelou que, em alguns campos, a simples declaração do uso de IA pode levar a uma avaliação mais crítica e, em alguns casos, à rejeição de artigos, mesmo que o uso tenha sido apenas para aprimoramento linguístico 1. O estigma é real: a IAG é associada à facilidade e, consequentemente, à menor qualidade ou esforço.
Diretrizes e a Busca por um Padrão
Para combater esse dilema, as principais instituições e periódicos científicos estão se mobilizando para criar um novo padrão de conduta:
1.Declaração de Uso (Disclosure): A maioria dos periódicos de alto impacto agora exige uma seção clara onde o pesquisador deve detalhar o como e o para quê a IA foi utilizada (ex: "A IAG foi usada para gerar o rascunho da seção de Introdução, que foi posteriormente revisado e editado pelo autor").
2.Proibição de Autoria: Há um consenso crescente de que a IA não pode ser listada como autora. A autoria implica responsabilidade pelo conteúdo, algo que apenas um ser humano pode assumir.
3.Foco na Responsabilidade Humana: A ênfase é colocada na responsabilidade final do pesquisador. O uso da IA é aceitável, desde que o autor possa garantir a veracidade dos dados e a integridade das conclusões geradas.
O Futuro da Pesquisa: A IA como Co-Piloto, Não Piloto
O caminho a seguir não é banir a IAG, mas integrá-la de forma ética e transparente. A IAG deve ser vista como um co-piloto que auxilia o pesquisador, mas nunca como o piloto que assume o controle.
•Uso Aceitável: Revisão gramatical, tradução, sumarização de textos, geração de código de programação.
•Uso Inaceitável: Geração de dados falsos, criação de conclusões sem base em evidências, ou a redação completa de um artigo sem revisão humana substancial.
A superação do Paradoxo da Transparência passará pela educação e pela mudança cultural. É preciso que a comunidade acadêmica reconheça o valor da IAG como uma ferramenta legítima de produtividade, e que os pesquisadores sejam rigorosos em sua declaração de uso. A integridade científica do futuro dependerá da honestidade com que a tecnologia é empregada.